sexta-feira, dezembro 29, 2006

Memórias e declarações...
Que venha o ano novo. Eu me desejo muitas coisas boas, sucesso, conquistas, sonhos que antes não pude realizar...Realizados. O ano novo pra mim não vai chegar completo e os outros que virão nunca mais serão. Eles podem vir recheados de alegrias, momentos de felicidades, mas não completos. Eu me desejo muita força, porque só eu sei quando ela desaba. Um dos meus sonhos era comprar meu carro e comprei, mas meu sonho era que eu comprasse pra levar minha mãe em lugares que ela não tinha conhecido ainda. Eu a levei em alguns, passeamos, fizemos compras de impulso, mudamos o destino no meio a volta pra casa, nos divertimos. Mas eu queria mais...Queria uma viagem, queria eu estar estabilizada para dar pelo menos 10% do que ela já me proporcionou. Ano passado nesta mesma data, agente passou o reveillon melhor do mundo. Estava eu ela numa janela estreita, mas de visibilidade gigante pra lagoa. Ela estava na minha frente e eu as vezes colocava meu corpo pra frente pra ver a expressão do rosto dela vendo os fogos. Ela dizia: Nossa Viviii, “olha esse, olha aquele lá do fundo que maravilha”, e eu já sabendo de pelo menos 1% do que íamos passar entrando aquele ano dizia: Lindo mesmo heim mãe? No dia 1 de janeiro de 2006 bem cedo, umas 7h da manhã, ela sentou na minha cama e disse. Ô minha filha, estou com câncer. Meu mundo desabou mas eu jamais faria qualquer expressão de que estava com medo. E eu disse a ela: Mãe divide comigo sua dor. Uma coisa é você carregar um saco de 50kg sozinha, a outra é dividir. A partir de amanhã, vou procurar o melhor médico, o melhor especialista e vc vai ver que vamos tirar de letra. Mas não me esconda mais nada. E ela disse: É? Eu disse: É assim que vai ser. Tudo que você não tiver coragem pra dizer as pessoas vc diz pra mim. Assim vc vai estar dividindo o peso e nós vamos até o fim. E por ai começou a luta incansável. Passamos a dormir no mesmo quarto, a dividir até o choro de medo. Em fevereiro em pleno carnaval a primeira cirurgia. Nós duas lá no hospital, vendo pela tv aquele brilho todo das escolas de samba e ela mesmo sentindo dor ria e dizia que aquilo era lindo demais. Nesses oito meses tratamos com aplicações, sessões até que em outubro ela almoçou fora pela ultima vez no dia do meu aniversário. Dali agente ainda dividia o peso, mas uma olhava pra outra e queria dizer e agora? Mas não tinha coragem. Eu peguei seu ultimo exame dia 16 de outubro, e ela me dizia: È Viviane, sempre no seu aniversário acontece alguma coisa heim? E eu disse: As coisas acontecem...bola prafrente Mãe, sem desânimo heim?. Daí passamos 21 dias no hospital, ela chorava muito, dizia ... Estava tudo bem antes e o que estava acontecendo?. Eu não podia dizer que havia metástases, jamais a deixaria sofrer. Eu quis sofrer sozinha, não queria dividir tamanha dor, essa dor ia ser só minha. A morfina amenizada sua dor e aumentava a minha, mas pedi a Deus que me deixasse com aquela dor se fosse pra amenizar a dela. Algumas noites ela chorava baixinho pra eu não escutar, eu levantava pegava na mão dela forte e dizia: Mãe: Deus ta com agente, e eu vou chorar pra vc não chorar sozinha? Ta bom? E ela balançava a cabeça dizendo sim. Ela me disse: Ai de mim se não fosse vc! E eu fiquei estática. Viemos para casa, pois os médicos diziam que agora eu tinha de dar carinho, amor, atenção. È duro ouvir isso. Mas pela depressão ela precisava ir pra casa e viemos. Montamos a cama ao lado da minha, eu cochilava mais jamais dormia, era como se fosse minha primeira filha, um suspiro mais forte eu tava de pé. Meus joelhos ficavam ardendo todos os dias de tanto levantar bruscamente, mas eu jamais disse estar cansada em cuidar. Ela olhava pra mim às vezes na sua lucidez e dizia: -Rsrsr Vc parece cão de guarda Vivi. E eu dizia: Mas eu sou seu cão de guarda..Vc quer alguma coisa?rsrs Passaram algumas semanas, foram 5 enfermeiras e um cão de guarda, e mesmo ela sedada eu dizia: Mãe...Tô aqui viu? Eu sei que ela estava me escutando. No dia 13 de dezembro aniversário da minha irmã, ela estava com a respiração ofegante, diziam estar terminal. Passei o dia sem saber o que sentia, se era dor, se era medo. Um telefonema de um amigo de São Paulo dizia: Faça o evangelho à noite, e será feito o que Deus achar melhor. Acho que entendi. Passei no quarto pra ver como ela estava a pressão estava 7/6. Está caindo Viviane, disse a enfermeira e eu novamente não sabia o que estava sentindo. Eu parei enfrente a cama,ela se mexeu como se fosse acordar...
Eu disse --Mãããee????????????????????????????????
E ela respirou fundo e se foi bem ali na minha frente. Eu olhava, e não sabia o que pensar. Eu nunca mais vou esquecer os dias, as noites que passamos. Nunca mais vou esquecer nosso abraço de choro, uma com medo de perder a outra. Nossas brincadeiras e bobajadas ditas uma rindo da outra. E nunca mais vou esquecer que nós duas tivemos uma história e nem por isso perdemos a batalha. Agente se encontra nos sonhos e até neles, estamos de mãos dadas. Pra sempre Mãe, eu e vc. Te amo.

2 comentários:

Anônimo disse...

TEMOS AMIGOS EM COMUM E ..POR FIM CHEGUEI AO SEU BLOG, NUM ACASO DO DESTINO.
NAO POSSO LER O QUE LI E NAO ME MANIFESTAR...
SEREI ANONIMA NA POSTAGEM MAS REAL EM MEUS SENTIMENTOS...
TE DESEJO TODA A FORCA DO MUNDO. VC ESBANJA ALEGRIA, VC BRILHA NO SORRISO E COM CERTEZA ELA E DEUS ESTARAO AO SEU LADO.
SINTA-SE ABRACADA.
FORCA, PAZ, CONFORTO, ...

Anônimo disse...

Vivi, passei por aqui de novo, li tudo e de novo não sei o q dizer.. melhor nada. sou tagarela só qdo nao precisa mesmo. =/

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