Memórias, Crônicas e Declarações

E continuo pedindo a Deus força. E a Deus tolerância e sabedoria para não me revoltar diante da doença. Revolta que está presa em mim, que não conforma em não poder fazer mais nada e ouvir dos médicos para dar qualidade de vida. Revolta em ver minha mãe chorando todas as noites de dor e eu lá apertando a mão dela em meio uma luz baixa e serena para talvez amenizar. Independente de seguir a doutrina espírita isso revolta. Sei que são provações da vida, mas não precisava ser nessa intensidade. Cada vez que penso na palavra câncer me tira um pedaço do corpo, é como se um pedaço tivesse indo embora. Tão sensível e tão meiga ao mesmo tempo, nem a doença consegue tirar aquele sorriso que hoje vendo algumas fotos eu não consigo conformar com tal situação. Fotos de abraço, de família, de natal. Ano passado a levei para ver a luzes da cidade e parecia ali que era aquele o último natal. Ela olhava aquilo já sabendo da doença e ainda conseguia dar um sorriso e dizer _Que coisa mais linda heim? Esse ano meu desejo era que pela última vez ela conseguisse ao menos sentar para dar o último passeio de natal. Eu saio a noite e vejo as luzes e me lembro de cada expressão do rosto dela no ano passado. Mesmo assim eu permito a Deus que ele faça o que achar melhor para seu alívio, por mais que seja difícil acreditar que estamos nessa situação. Eu nem sei se vamos ter natal este ano. Ela todos os anos adorava comprar presentes para todos e distribuir na noite de natal ao pé da árvore para todos que estivem lá conosco reunidos. Esse natal eu não sei se Ele vai permitir dela estar conosco, o que me faz doer amargamente. Paro por aqui, não consigo mais escrever por hoje. Saúde a todos.